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Moradores da zona leste: desempregados e sem esperança

3/9/2004 13:42:40
Por Aldrin Willy - colab.: Roger LaFontaine
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A retomada do crescimento econômico no País, indicada pelo aumento nos índices de produção industrial e de empregos formais, não chegou a Porto Velho. Pelo menos, na parte esquecida da cidade. 



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A notícia propagada pela imprensa que o Brasil voltou a crescer enche de esperança os corações aflitos de pais de família que correm a cidade em busca de um posto de trabalho. Isso é o que está ocorrendo em boa parte do País, e de forma mais sensível nas regiões abastadas, a exemplo dos pólos industriais de São Paulo, Rio de Janeiro e Manaus.

Na contramão do despertar econômico nacional, em Porto Velho, a população dos bairros periféricos não expressa ânimo com os ventos de crescimento sentidos em outras cidades. O desemprego reina absoluto nos lares e, para esse povo, a retomada do crescimento ainda não aconteceu.


TODOS DESEMPREGADOS

Na casa de Mário Eduardo (19), morador da Rua Benedido Juvêncio, no Bairro Juscelino Kubitschek, todos estão desempregados. São as irmãs de Eduardo, sentadas com ele num banco contíguo à casa, que respondem desabaladamente ao repórter se alguém na residência está sem emprego. A sobrevivência só é possível com os “bicos” que os integrantes da família conseguem vez por outra.

Com maior gravidade, no lar de Rosalina da Silva (30) o problema da falta de emprego atinge a toda família. Ela tenta sobreviver sem emprego há cerca de 5 anos, morando na Rua Mapinguari, Bairro Socialista. Para manter Rosalina e o casal de filhos (uma de 8 e outro de 6 anos), o padeiro desempregado e marido “se vira como pode”.

O empenho heróico do marido de Rosalina, entretanto, não resulta em mais do que um salário mínimo (R$ 260) por mês. Os recursos escassos obrigam-na a sacrificar a alimentação dos filhos: enquanto conversa com o repórter, seu filho destroça um minguado pedaço de pão.

A situação de Luana Mendes Lopes (19) é um pouco melhor. Seu marido trabalha e consegue sustentar a mulher e o filho lactente. Residente na Rua Raimundo Cantuária, no Bairro Tancredo Neves, Luana expressa através de sua inocência de menina que virou mãe cedo a insatisfação de viver sem ocupação formal. Depois do emprego de babá, há 2 anos, ela não mais conseguiu ocupação e hoje desistiu de ir atrás de um posto de trabalho. “Fico em casa ‘mermo’, cuidando do meu filho”.

Na Rua Che Guevera, Bairro Socialista, outro caso que abominaria o célebre guerrilheiro. Deixado pela mulher, pai de três filhos, Raul Vitor de Medeiros (52) já nem se lembra com precisão há quanto tempo teve seu último emprego. “Acho que foi em 99”, esforça-se. Vítima de uma hérnia de disco, Raul não pode mais exercer sua profissão na padaria, pois “eu não posso fazer força” e para ele “não se acha mais vagas”.

Raul veio de São Paulo com expectativa de que aqui conseguiria uma vida mais tranqüila para a família. Está desapontado e, se a situação não melhorar, retornará a seu Estado de origem.


CULPA DOS GOVERNOS

O crescimento não vem, nem os empregos com ele. Para amenizar a tragédia das famílias que tentam sobreviver a pão e água, o Governo e a Prefeitura “fazem sim, na época da eleição, fazem muita coisa”, afirma Medeiros.

O pensamento de Raul Medeiros, dado como resposta à indagação do repórter, sintetiza a idéia consensual entre os habitantes das regiões afastadas do centro da Capital quanto à atuação do Poder Público no combate ao desemprego: a presença dos governos federal, estadual e municipal inexiste ou é muito limitada e quando ocorre é motivada por interesses eleitorais.

Raul hesita a princípio; mas logo depois, numa cadência enfurecida, elege o culpado pelo desemprego. Atacando “o coração da coisa”, ele dispara:

— A maior parte desse desemprego é [causada pelo] o Brasil que não tem governo. É nego roubando lá, nego roubando cá. Para os pobres [...] não sobra nada. Onde já se viu, na rede carcerária um preso custar R$ 3 mil e o governo não poder dar uma bolsa escola maior que R$ 15 por cada pessoa.

A carência do Poder Público na região leste de Porto Velho vai além da bolsa escola. A quase ausência de creches municipais na região impede, em muitos casos, os pais desempregados de buscarem trabalho.

Rosalina diz que como “não tem com quem deixar” o filho pequeno, não pode sair para procurar emprego.

Além disso, as crianças são obrigadas a ingressar no ensino básico sem antes passar pela alfabetização.

“O meu filho que tem 6 anos não foi pro pré [creche pré-escolar de alfabetização], porque eu não consegui [vaga]. Aqui só tem dois pré, o restante é particular. Então como não tem dinheiro [...] ele não faz pré [não é alfabetizado]. Vai direto pra primeira série” – conta Rosalina.

A jovem Luana Mendes acredita que o governo e a prefeitura, “não muito, mas fazem” alguma coisa para abrandar a situação na região. Mesmo assim, “é difícil eles fazerem alguma coisa”.


PREFEITO DAS “FLORZINHAS”

Os habitantes dos bairros periféricos da zona leste, além de sofrerem amargamente a chaga da falta de emprego, desconhecem a presença da prefeitura, e especialmente do prefeito, em suas ruas. Estas, na esmagadora maioria, estão repletas de buracos, esgotos a céu aberto e cobertas por uma grossa camada de poeira, a qual, quando algum veículo atravessa a rua, emerge na atmosfera.

Rosalina revela algo surpreendente: um outro nome pelo qual é conhecido o prefeito Carlos Camurça. “Aquele lá é conhecido como o prefeito das florzinhas, Carlinhos das Florzinhas, porque só sabe plantar flor, outra coisa não. No ano passado ele fez concursos para catador e gari, esse ano nem isso.”


EDUCAÇÃO

Os moradores entrevistados por Imprensa Popular reconhecem que uma das causas precípuas de seu desemprego é a falta de maiores estudos e especializações. Contudo, atribuem essa deficiência ao fracasso do governo em dar uma escola de qualidade.

Ainda que a situação não melhore e as famílias tenham seus dramas aumentados, os residentes das zonas esquecidas da Capital (pela prefeitura), ao menos os ouvidos pela reportagem, não pretendem mudar de Porto Velho ou do Estado.

A razão da permanência deles, todavia, não é somente o amor que sentem pela cidade; deve-se, sobretudo, a difícil situação, segundo eles, em todos os lugares dentro ou fora do Estado.

— Eu cheguei a pouco tempo do Maranhão e as coisas lá não estão melhores não – confirma Mário Eduardo.

A continuar a estagnação da economia local, Rosalina acredita que o futuro de sua família será “o pior possível”. O que será então das famílias em piores condições (se existirem)? “Só Deus sabe.”


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